terça-feira, 20 de março de 2012

Trabalho

01. O Pensamento Positivista

O Positivismo nasce de pensadores como Saint-Simon, August Comte e Émile Durkeim. Para os positivistas a sociedade, tal qual o mundo natural, seria regida por leis naturais, invariáveis, independentes da ação e da vontade dos indivíduos. O papel da ciência positiva seria observar e descrever, sob neutralidade e objetividade científica, estas leis de forma que os homens pudessem agir de acordo com elas.

A concepção positivista concebe a sociedade como um organismo composto por partes diferentes e interdependentes. A existência saudável desta sociedade depende da integração entre as partes e do desempenho da função específica de cada uma das mesmas. Assegurar integração e desempenho de função proporcionaria um padrão de saúde social cuja expressão seria o consenso, a conciliação e a coesão social.

Assegurar a harmonia entre as partes, dentro da ordem natural do mundo social, tornaria possível a sociedade evoluir crescentemente, isto é, atingir o progresso. Contudo, em uma sociedade em que cada indivíduo ou grupo – a parte – contestasse o seu lugar natural no interior da sociedade, desconhecendo o seu papel e função específica, teria início a desintegração e a crise de desempenho de função. Estabeleceria um estado de “patologia social”, cuja evidência seria o conflito. Neste contexto, o progresso técnico, econômico, social, político, cultural, escolar etc, estaria comprometido.

Para os positivistas a própria dinâmica acelerada das sociedades industriais contemporâneas geraria um ambiente social permissivo a conflitos. A dinâmica acelerada de criação de novas relações sociais proporcionada pela sociedade industrial, por exemplo, não permitiria o tempo necessário para sedimentar usos e costumes que gerariam uma regulamentação legal adequada sobre os direitos e deveres das partes que compõem o todo social. Estabeleceria estados de anomia social, isto é, de ausência de leis claramente estabelecidas para dirigir a conduta dos indivíduos.

A perpetuação do estado de anomia geraria o caos e a desordem social de forma a colocar sob risco a sociedade e o progresso social. A investigação das relações entre capital e trabalho sob uma conjuntura de transformações capitalistas mergulhadas em estado de anomia social cumpriria, por exemplo, o papel de proporcionar ao poder público e empresários as condições para formular e estabelecer a legislação trabalhista adequada aos novos tempos. Como resultado ocorreria a superação do conflito entre capital e trabalho.

[BARBOSA, Walmir. Sociologia e Trabalho, uma leitura sociológica introdutória]

02. A Análise Marxista

O principal objeto de estudo de Marx era a sociedade capitalista europeia do século XIX. A partir de seus princípios teóricos, ele analisou alguns aspectos responsáveis pela subordinação do operário ao burguês, especialmente a divisão técnica do trabalho e a máquina. Para Marx, a especialização do trabalhador, embora aumentasse a produtividade e a qualidade do que era produzido, levava os trabalhadores a perder a noção de sua própria importância no processo total. Como cada pessoa passa a fazer uma pequena etapa do processo de produção, perde-se a noção do valor do trabalho.

O trabalho realizado pelo operário garante-lhe uma remuneração, o salário, que possibilita a satisfação de suas necessidades materiais por um certo período de tempo. Isso exige que ele continue a trabalhar para que possa permanecer existindo. Como o salário sustenta sua existência, o operário tem a impressão de que foi corretamente remunerado pelo burguês, mas isso, de acordo com Marx, é um equívoco.

A remuneração paga corresponderia apenas a uma pequena parte do valor do trabalho. A maior parte ficaria com o burguês. É a partir disso que o empresário extrairia seu lucro. Marx chamou isso de mais-valia: a diferença entre o valor pago ao proletário e o real valor do seu trabalho. Esse conceito é muito importante e ajuda a entender a acumulação de capital pelos donos dos meios de produção (burgueses). A base do sistema capitalista seria a extração da mais-valia da burguesia em relação aos trabalhadores.

Em parte, o operário e os demais trabalhadores existentes na sociedade não se apercebem da exploração por causa do predomínio da ideologia burguesa, liberal, que afirma que as diferenças entre os indivíduos são resultado da concorrência natural. Tal naturalização esconde a relação de subordinação de uma classe sobre a outra permitindo ao burguês manter o controle sobre a sociedade, ainda que de forma indireta, por meio do domínio sobre a esfera econômica.

Para Marx, a única forma de superar esta situação de desigualdade social seria a atuação revolucionária do proletariado, classe social que sofre diretamente a exploração burguesa por trabalhar dentro da fábrica. É esta situação que leva o proletariado a adquirir consciência de sua exploração e que possibilitaria sua união, na forma de sindicatos e partidos políticos que liderariam a classe trabalhadora numa revolução armada contra a burguesia, assumindo o controle do Estado e iniciando a transição em direção à superação da exploração e da desigualdade.

A teoria marxista, no entanto, possui limitações que acabam por esbarrar no componente histórico; sua previsão era de que a sociedade capitalista sofreria um contínuo processo de proletarização que, associado ao desenvolvimento tecnológico, gerariam as condições para a conscientização do proletariado e posterior revolução.

Essas previsões, porém, não se concretizaram. A atuação do movimento operário, a percepção burguesa de que o aumento de salários geraria demanda para seus produtos e a aceleração tecnológica levaram à diversificação da mão de obra e ao surgimento de novas carreiras e setores de empregabilidade. Ao longo do tempo, uma parte dos trabalhadores, principalmente nos países europeus, foi alçada às camadas médias, tendo possibilidades assim de consumir mercadorias e serviços. Gozando de parte dos benefícios do capitalismo, essa nova classe média perdeu muitos de seus anseios revolucionários. Integrada ao sistema capitalista, interessava-lhe menos questionar a mais-valia.

[Sociologia, Sistema COC (Ensino Médio)]

03. O Pensamento Weberiano

Em uma das suas obras mais importantes, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber coloca como uma de suas principais preocupações compreender quais foram as especificidades que levaram algumas sociedades ocidentais ao desenvolvimento do capitalismo. Para ele, o fator responsável pelo surgimento do capitalismo foi a razão humana ligada a certos valores calvinistas presentes na época. O protestantismo calvinista acreditava que por meio do trabalho o homem alcançaria Deus, e como o trabalho gerava lucros, a riqueza também era uma forma de alcançá-lo.

Para Weber o moderno sistema de produção, eminentemente racional e capitalista, não se origina do avanço das forças produtivas, nem das novas relações de produção como teria afirmado Marx. Origina-se de um novo conjunto de normas sociais e morais, às quais denomina ética protestante: o trabalho duro e árduo, a poupança e o ascetismo. Este conjunto de normas sociais e morais teria proporcionado a reaplicação das rendas excedentes, em vez de seu dispêndio e consumo em símbolos materiais e improdutivos de vaidade e prestígio, a exemplo do que ocorria na Idade Média.

Para Weber o capitalismo, a organização burocrática e a ciência moderna constituem três formas de racionalidade que surgiram a partir dessas mudanças religiosas ocorridas inicialmente em países protestantes, a exemplo da Inglaterra e da Holanda. Países católicos, sob um conjunto de normas sociais e morais impregnadas de aspectos cristãos - medievais, não teriam gerado esta racionalidade.


.. em relação a burocracia..


Para Weber a burocracia seria uma forma de organização humana que se basearia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos. Segundo ele, as origens da burocracia – como forma de organização humana – remontariam à época da Antiguidade, quando o ser humano elabora e registra seus primeiros códigos de normatização das relações entre o Estado e as pessoas e entre as pessoas. Contudo, a burocracia – tal como existe hoje - teve sua origem nas mudanças religiosas verificadas após o Renascimento.

Para Weber a burocracia não se limita à organização estatal. Weber nota a proliferação de organizações de grande porte no domínio religioso (a Igreja), no educacional (a universidade), no econômico (as grandes empresas), e assim por diante. Para tanto, teria concorrido o desenvolvimento de uma economia monetária, que facilita e racionaliza as transações econômicas; o crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno, que reflete a enorme complexidade e dimensão das tarefas de organização da sociedade moderna; a superioridade técnica da administração burocrática, que permite uma força autônoma à própria burocracia; e o desenvolvimento tecnológico, que permite um progressivo aperfeiçoamento da administração burocrática Para Weber, a burocracia seria a organização eficiente por excelência. Ela perseguiria a racionalidade em relação ao alcance dos objetivos da organização; a precisão na definição dos cargos e na operação das tarefas; a rapidez nas decisões; a univocidade de interpretação garantida pela regulamentação específica e escrita; a uniformidade de rotinas e procedimentos; a continuidade da organização no contexto de renovação dos quadros; a redução do atrito entre as pessoas; a constância; a subordinação dos mais novos aos mais antigos; a confiabilidade; a existência de benefícios sob o prisma das pessoas na organização.

Nessas condições, o trabalho seria profissionalizado, o nepotismo evitado e as condições de trabalho favoreceriam a moralidade econômica e dificultariam a corrupção. A equidade das normas burocráticas teria a virtude de assegurar cooperação entre grande número de pessoas sem que essas pessoas se sentissem necessariamente cooperadoras.

O termo burocratização usado por Weber integraria, em alguma medida, com o conceito de racionalização. Assim, a racionalização, para Weber, tanto poderia referir-se aos meios racionais e sua adequação para se chegar a um fim, qualquer que fosse ele, como também poderia referir-se à visão racional do mundo por meio de conceitos cada vez mais precisos e abstratos, desenvolvidos inclusive pela ciência, de reforma a rejeitar toda religião e valores metafísicos ou tradicionais, desmistificando o próprio mundo.

Weber temia a burocracia. Embora considerasse a burocracia como a mais eficiente forma de organização criada, a concebia como uma enorme ameaça à liberdade individual e às instituições democráticas das sociedades ocidentais. O próprio Weber notou que a estrutura burocrática enfrentaria um dilema típico: de um lado, existiriam pressões constantes de forças exteriores para encorajar o burocrata a seguir normas diferentes àquelas da organização e, de outro lado, o compromisso dos subordinados com as regras burocráticas tenderia a se enfraquecer gradativamente.

Neste quadro poderia ocorrer disfunções da burocracia, isto é, anomalias e imperfeições no funcionamento da burocracia. Cada disfunção seria o resultado de algum desvio ou exagero em cada uma das características do modelo burocrático. As disfunções da burocracia seriam a internacionalização das normas; o excesso de formalismo e papelório; a resistência a mudanças; a despersonalização do relacionamento; a categorização do relacionamento; a super conformidade; a exibição de sinais de autoridade; a dificuldades com clientes e a imprevisibilidade do funcionamento.

[BARBOSA, Walmir. Sociologia e Trabalho, uma leitura sociológica introdutória]

04. EXTRAS

SOLIDARIEDADE MECÂNICA:
- Característica da fase primitiva da organização social que se origina das semelhanças psíquicas e sociais (e, até mesmo, físicas) entre os membros individuais. Para a manutenção dessa igualdade, necessária à sobrevivência do grupo, deve a coerção social, baseada na consciência coletiva, ser severa e repressiva. O progresso da divisão do trabalho faz com que a sociedade de solidariedade mecânica se transforme.

SOLIDARIEDADE ORGÂNICA:
A divisão do trabalho, característica das sociedades mais desenvolvidas, gera um novo tipo de solidariedade, não mais baseado na semelhança entre os componentes (solidariedade mecânica), mas na complementação de partes diversificadas. O encontro de interesses complementares cria um laço social novo, ou seja, um outro tipo de princípio de solidariedade, com moral própria, e que dá origem a uma nova organização social - solidariedade orgânica. Sendo seu fundamento a diversidade, a solidariedade orgânica implica uma maior autonomia, com uma consciência individual mais livre.

ALIENAÇÃO:
Processo que deriva de uma ligação essencial à ação, à sua consciência e à situação dos indivíduos, pelo qual se oculta ou se falsifica essa ligação de modo que o processo e os seus produtos apareçam como indiferentes, independentes ou superiores aos homens que são, na verdade, seus criadores. No momento em que a uma pessoa o mundo parece constituído de coisas – independentes umas das outras e não relacionadas – indiferentes à sua consciência, diz-se que esse indivíduo se encontra em estado de alienação. Condições de trabalho, em que as coisas produzidas são separadas do interesse e do alcance de quem as produziu, são consideradas alienantes. Em sentido amplo afirma-se que é alienado o indivíduo que não tem visão – política, econômica, social – da sociedade e do papel que nela desempenha.

LUTA DE CLASSES:
Esforço de uma classe para conseguir uma posição ou condição de maior bem-estar na comunidade, com respeito aos direitos, privilégios e oportunidades dos seus membros.

BUROCRACIA:
Organização com cargos hierarquizados, delimitados por normas, com área específica de competência e de autoridade, dotados tanto de poder de coerção quanto da limitação desta, onde a obediência é devida ao cargo e não à pessoa que o ocupa; as relações devem ser formais e impessoais, sem apropriação do cargo que, para ser preenchido, exige competência específica; todos os atos administrativos e decisões têm de ser formulados por escrito.

Sobre Fordismo e Toyotismo, um site com um resumo razoável sobre esses temas:
- Geomundo


Sobre a Divisão Social do Trabalho:
- eumed.net