quinta-feira, 8 de novembro de 2012

O individualismo e o capitalismo pós-moderno


Por José Valmir Dantas de Andrade

A formação do homem grego define-se como sendo um universo no sentido histórico e espiritual, no que concerne a cultura, tendo como finalidade a justiça, a felicidade, a virtude e a liberdade. Tudo isto, feito de uma forma coletiva. A palavra paidéia é de grande amplitude e não tem uma tradução exata para o português, mas pode ser definida como cultura ou formação do homem em sua integridade. Para se fazer uma designação completa do termo grego, poderíamos denominá-lo de uma só vez como: civilização, cultura, tradição, literatura ou educação.

Para os antigos, assim como agora, a expressão educação não pode se desvencilhar da realidade material e histórica de uma nação. Os precursores da educação foram os gregos, que tiveram uma importância singular na educação do homem ocidental. A teleologia (o termo teleologia vem do grego telos, que significa objetivo, finalidade, projeto de vida coletiva, quando uma ação humana deriva unicamente de suas conseqüências, onde se quer chegar) grega era a educação dos seus cidadãos.

A busca da felicidade

Todo povo que atinge um grau elevado de desenvolvimento, sente-se naturalmente inclinado à educação. Uma educação consciente pode até mudar a natureza física do homem e suas qualidades, elevando sua capacidade a um nível superior. O educar conduz o espírito humano progressivamente à descoberta de si próprio – como diz Milton Nascimento: "Eu, caçador de mim" – e cria pelo conhecimento do mundo exterior e interior, formas melhores de existência humana. A natureza humana, na sua dupla dimensão corpórea e espiritual, cria condições especiais para a manutenção e transmissão de suas formas peculiares de vida física e espiritual, ao que nós damos o nome de educação.

Na educação, como o homem a pratica, atua a mesma forma vital, criadora e plástica que, espontaneamente, impele todas as espécies vivas à conservação e propagação do seu tipo. A história da formação humana é colocada dentro de um nicho do pensar racional e espiritual. Segundo Foucault, o homem é uma invenção nova, mas que já está por se esvair. Para o filósofo francês, o homem só é enquanto um ser do cogito, do pensar. Partindo deste pressuposto, o homem da era do Big Brother é um ser não pensante e, conseqüentemente, um homem fadado, a meu ver, ao niilismo total. Tendo como fio condutor a educação, o homem, segundo o objetivo grego, sobretudo no projeto aristotélico, tende à busca da felicidade. Mas no decorrer da história, se vislumbrou a felicidade por vieses diferenciados.

Compensação da infelicidade

Aristóteles sustentou que o mais alto nível de felicidade humana está no exercício da razão, faculdade inerente somente a esta espécie. Mas, na visão do estagirita, ainda que a razão esteja vinculada a um elemento teórico, é imprescindível que tenhamos alguns elementos práticos, como a segurança econômica e, ainda segundo aquele, precisamos de liberdade pessoal. Nesta concepção, poucas pessoas da época de Aristóteles teriam o direito à felicidade e à liberdade. Dentre as que estariam fora da possibilidade de ser feliz estariam as mulheres e os escravos. Hoje, no mundo atual, afetado por uma lógica do capitalismo selvagem, temos mais de 2 bilhões de pessoas no mundo que estariam totalmente excluídas da possibilidade de gozar da felicidade. Estes são os humanos que vivem em situação de completa insegurança alimentar, sem o que a Declaração Universal dos Direitos Humanos garante: o direito à segurança social.

Partindo da impossibilidade de alcançar a verdadeira felicidade aqui na terra, a ética cristã transfere sua obtenção para um mundo ultra-terreno. A felicidade só pode ser obtida no céu, como compensação da infelicidade terrena. Deste modo, uma felicidade ideal e ilusória vem substituir a felicidade terrena e real.

Culto ao individualismo

O pensamento ético moderno, particularmente o dos filósofos iluministas e materialistas franceses do século XVIII, sustenta o direito dos homens serem felizes neste mundo, mas concebe a felicidade num plano abstrato, ideal, fora das condições concretas da vida social. Tais pensadores esqueciam o fundamento aristotélico de que o homem necessita de condições concretas para sua felicidade. Apesar, é claro, dos limites do conceito de felicidade imposto por Aristóteles [Vazquez, Adolfo Sanches. Ética. Tradução: João Dell’Anna, 25ª edição. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira: 2004]. Até Maquiavel, que se debruçou sobre uma análise do Estado em seu sentido concreto e real.

A ética do período contemporâneo, que se convencionou chamar de pós-moderna, é uma prática do culto ao individualismo (ou tudo para mim, ou o "inferno" para todos). Uma felicidade nestes moldes é uma felicidade imoral. Certos indivíduos de um grupo social que somente podem encontrar a felicidade à custa da infelicidade dos outros. Todas as potencialidades humanas só teriam valor se estivessem voltadas para a felicidade de um povo ou de toda a humanidade.

Universidade ou o Big Brother?

O homem é, segundo a concepção filosófico-antropológica grega, um ser da polis, alguém da cidade, voltado a discutir as questões que lhe são inerentes, ou seja, um ser não alheio à sua condição fundante. Em suma: o ser homem se encontra essencialmente vinculado às característica do ser político. Esta era a característica do homem grego, um ser voltado para a arete politiken (virtude política). Partindo de uma ética de cunho citatinizante como a grega, a lógica é: ou tudo para a cidade, ou o apocalipse para o individuo.

A virtude (arete) ganhou uma definição dentro de cada nicho histórico-social. E, concomitantemente à virtude (arete), se desenvolvia outro conceito grego, a Dikaiosyne (justiça). Para Aristóteles, a justiça, seria a virtude maior. Na educação espartana, uma educação profícua e muito disciplinadora voltada para a arte da guerra, a virtude estaria mais propensa ao homem guerreiro, disciplinado e diferente, como se percebe, do homem grego ateniense, para o qual a virtude é político-pedagógica. Como se percebe, o universo da cidade grega, e/ou da universidade estava voltado para a educação da cidade, da polis, ou seja, tinha uma eficácia sobre a cidade. A pergunta que devemos lançar hoje é: na nossa cidade, quem tem mais impacto e/ou eficácia, a universidade ou o Big Brother, a meu ver, uma escola de conspiração e vulgaridade?

"Beco sem saída"

O homem moderno, kafkianamente falando, tem se mostrado marcado pelo desespero e a alienação, metamorfoseado em monstros, vivendo o seu estado de natureza, os seus instintos; talvez para ganhar um milhão de reais, ou sei lá o quê. Não que o homem grego, ou o homem educado, não tivesse o seu estado de natureza, seus instintos, pois também os tinham. O preocupante é que talvez a universidade esteja minimizando as chances da barbárie instauradas pelo "jogo" do Big Brother. Não seria nada anacrônico comparar tal jogo ao "Mito da caverna", de Platão. Ali, o filósofo compara, no livro VII da sua obra A Republica, o homem com a educação (paidéia) e o mesmo em relação à falta desta (apaideusia). Homens vivendo numa caverna subterrânea. Isto se refere às pessoas sem o conhecimento da dialética, instrumento supremo do saber, do conhecimento do Bem e do Belo. A tais homens, vivendo ali desde a meninice, só lhes é permitido olhar para a frente. Estão de costas para a saída. São pessoas vivendo numa condição de apatia diante do mundo real, iludidas com o que está à sua frente e virando as costas para aquilo que, segundo a teoria do conhecimento platônica, é o mais salutar de todas as coisas: o mundo das idéias, ou seja, a essência das coisas. O homem que ignora ou despreza o saber vive de aparências, jogando fora a essência da vida, a sabedoria.

E a alegoria segue, mas o que se quer demonstrar aqui é a falta da correlação dos nossos citadinos com a universidade e o atrelamento destes à caverna da estupidez, lado mais mesquinho do homem, uma quase ausência de escrúpulo para se levar vantagem. Antropologicamente, um "beco sem saída." Se fizermos uma pesquisa na nossa cidade, perguntando: a), você conhece o programa Big Brother? e b), você conhece o programa político pedagógico da Universidade Federal de sua cidade?, dependendo do número do "sim" para cada questão, seria um termômetro para sabermos se estamos na caverna ou na paidéa.


Fonte: http://observatoriodaimprensa.com.br/news/view/o_individualismo_e_o_capitalismo_posmoderno

quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Filosofia no ENEM


01. Filosofia no ENEM:

Há alguns anos o ensino de Filosofia voltou a ser obrigatório em todas turmas de Ensino Médio no Brasil. Desde então, a Filosofia vem se tornando mais importante nas provas de seleção aos cursos universitários, sejam provas vestibulares convencionais, seja o ENEM.

Nos últimos três anos, o ENEM tem assumido um papel cada vez mais central no ingresso às universidades públicas devido ao fato de estar a ser adotado por várias instituições de ensino superior como etapa no processo de seleção e, eventualmente, como único vetor de seleção.

Devido à crescente importante da Filosofia e do ENEM para a entrada dos alunos nas universidades públicas, torna-se necessário conhecer o conteúdo de Filosofia exigido no processo.

Até a edição de 2009, a Filosofia entrava no ENEM de modo somente marginal:

  • Em 2005 não houve questão de Filosofia.
  • Em 2006, uma questão sobre a perspectiva de cristãos e de muçulmanos a respeito das Cruzadas; uma questão sobre a visão etnocêntrica das “missões civilizadoras” européias no Brasil no século XIX.
  • Em 2007, uma questão que relaciona Iluminismo, jusnaturalismo, Independência dos EUA e Revolução Francesa.
  • Em 2008, uma questão na qual os alunos deviam se colocar sob a perspectiva do relativismo cultural; uma questão de semiótica, a respeito de signo classificado como “indício”; uma questão sobre a percepção da Peste Negra no século XIV.

Contudo, a partir de 2009 houve um espaço muito aumentado para a Filosofia no ENEM.
  • Em 2009 houve duas provas do ENEM.  A primeira foi cancelada por fraude. Na primeira prova, uma questão sobre a interpretação de duas pinturas (uma, de Debret, retratando D. João VI; outra, de Henrique José da Silva, representando D. Pedro I); uma sobre a interpretação de duas pinturas que representam a Primeira Missa em solo brasileiro; uma questão sobre o acesso às informações por pessoas de diversas culturas; uma sobre a participação coletiva e a autonomia social na política; uma sobre a ação de líderes políticos (Marquês de Pombal e Abraham Lincoln), na qual os alunos devem responder de acordo com uma perspectiva maquiavélica (sem que a questão cite Maquiavel); uma questão sobre a cidadania, o Estado e os indivíduos e as leis brasileiras; uma questão sobre a interpretação do conceito de Idade Média no Iluminismo; e uma questão sobre as diferenças entre a escravidão na Antiguidade greco-romana e a escravidão moderna até o século XIX no Ocidente.
  • Na segunda prova de 2009, uma questão a respeito dos conflitos da primeira metade no século XX (cuja origem é posta na crise do colonialismo e na ascensão do nacionalismo e do totalitarismo); outra questão sobre as características do totalitarismo; uma questão sobre a democracia e a cidadania na tradição política dos EUA; uma questão sobre a moralidade dos EUA de acordo com a perspectiva de Tocqueville; uma questão sobre a cidadania de acordo com a Política de Aristóteles; uma questão relacionando a organização política grega e a organização política das cidades indígenas da Amazônia; e uma questão a respeito da recomendação da Igreja – mais especificamente, da Inquisição –  sobre os casamentos no século XVI no Brasil.
  • O ENEM 2010 também foi aplicado e reaplicado, pois alguns milhares de alunos receberam provas com problemas de impressão. A primeira aplicação teve: uma questão sobre a definição de “política” em Paul Valéry; uma questão sobre Maquiavel; uma questão sobre o poder em Foucault; uma sobre Robespierre, burguesia e Revolução Francesa; uma sobre a disseminação de informações pela internet; duas questões sobre a definição de Ética; uma questão sobre a divisão dos poderes no Estado; uma questão sobre o despotismo e a democracia.
  • A reaplicação do ENEM 2010 teve: uma questão sobre a abolição da escravidão no Brasil, em que uma alternativa refere-se ao contratualismo; uma questão sobre o intercâmbio cultural; uma sobre a função no teatro desde a Grécia; uma questão sobre a definição de Ética; uma questão sobre o etnocentrismo europeu diante dos índios na colonização; uma sobre a globalização e a universalização de posições políticas e morais; uma sobre a divisão dos poderes; uma questão sobre a importância da Biblioteca de Alexandria; uma questão sobre o determinismo (com alternativas que são citações de Sartre, Agostinho, Schopenhauer, Foucault e Nietzsche).
  • Em 2011, o ENEM teve: uma questão sobre ética e moral; uma sobre a relação entre os movimentos sociais e a democracia moderna; uma sobre a definição de cidadão e o direito ao voto na Constituição de 1824; uma questão sobre a diferença entre a lei e a realidade social e política; uma sobre a relação entre a liberdade de imprensa e a democracia moderna;  uma sobre a proporção de eleitores em relação à população na democracia brasileira; uma sobre a influência da mídia no comportamento das crianças; uma sobre a diferença cultural entre os índios e os europeus no Brasil; outra sobre pluralidade étnica e direitos positivos na democracia brasileira; uma sobre o pensamento medieval; e uma sobre a proporção de seguidores de diversas religiões no Brasil.

De acordo com a tendência apresentada nos dois últimos anos (ou seja, nas cinco últimas provas…), o ENEM pode vir com questões de Filosofia sobre os seguintes temas:
  • Filosofia da Arte
  • Pensamento medieval; conceito de Idade Média
  • Ética
  • Etnocentrismo e relativismo cultural
  • A filosofia política grega, especialmente a partir de Aristóteles
  • Comparação entre a organização social e política grega e outras formas de organização social e política
  • Conceito de democracia
  • Conceito de cidadania
  • Maquiavel
  • Contratualismo
  • Montesquieu e a divisão dos três poderes
  • Raízes filosóficas da Independência Americana e da Revolução Francesa
  • Tocqueville e a tradição política americana
  • Os totalitarismos do século XX
  • Determinismo e liberdade

Como fica evidente, a maioria dos assuntos refere-se à ética e à filosofia política.

Um trabalho voltado à preparação para o ENEM, que tornou-se a mais importante prova para o ingresso no ensino superior no Brasil, deve abordar principalmente os temas indicados acima.


... para resolver várias questões com alguns dos temas acima, acessar o Sociologia de Plantão, com alguns exercícios de vestibular...

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

O Estado - Evolução Histórica


01. Considerações iniciais:

... antes de iniciar a traçar a origem do Estado como o conhecemos é de grande importância que saibamos diferenciá-lo dos conceitos de País e de Nação... sim, sim meus/minhas querid@s... Estado, País e Nação não são a mesma coisa... vejamos:

  • Estado - é a forma como uma comunidade se organiza politicamente, ocupando um território definido, dirigida por um governo (normalmente sob uma Constituição) e responsável pela organização e controle social (vale ainda ressaltar que é o Estado que detém o monopólio do uso legítimo da força/ poder coercitivo).
  • País - é um território social, politica, cultural e geograficamente delimitado por fronteiras.
  • Nação - normalmente definido como o conjunto dos indivíduos, geralmente da mesma etnia, que habitam o mesmo território, falam a mesma língua, têm os mesmos costumes, ou seja, um coletivo humano com características em comum.
02. Evolução Histórica:

Desde o seu surgimento como organização de meio nacional, desde as mais primitivas formas de associação política, o Estado, elemento dinâmico por excelência, vem evoluindo sempre, e refletindo, nessa evolução, a trajetória ascensional da civilização humana. Coloca-se em conveniente relevo os traços característicos dominantes da organização estatal em cada um dos grandes estágios da civilização:
  • O ESTADO ORIENTAL = Teocrático e politeísta, destacando-se, pelo seu feitio mais humano e mais racional, o Estado de Israel (O Estado de Israel constituía uma exceção entre os Estados antigos do Oriente);
  • O ESTADO GREGO = Que se caracteriza por uma nítida separação entre a religião e a política. O Estado Grego antigo, geralmente apontado como fonte da democracia,  nunca chegou a ser um Estado democrático na acepção do direito público moderno;
  • O ESTADO ROMANO = Expressão máxima da concentração política econômica. O Estado Romano tinha a sua origem, efetivamente, na ampliação da família. A família era constituída pelo pater, seus parentes agnados, os parentes destes, os escravos e mais os estranhos que se associavam ao grupo. A autoridade do pater família era absoluta;
  • O ESTADO FEUDAL = Conseqüente da invasão dos bárbaros, que foi a expressão máxima da descentralização política, administrativa e econômica;
  • O ESTADO MEDIEVAL = A partir do século XI, que foi uma nova expressão da centralização do poder,  com a preeminência do papado sobre o governo temporal. São características fundamentais do Estado medieval: Forma monárquica de governo; Supremacia do direito natural; Confusão entre os direitos público e privado; Descentralização feudal; e Submissão do Estado ao poder espiritual representado pela Igreja Romana;
  • O ESTADO MODERNO = Que reagiu contra a descentralização feudal da Idade Média e contra o controle da Igreja Romana, revestindo a forma do absolutismo monárquico.

03. Teorias de legitimação do Estado:

Somando a coerção, os Estados geralmente reivindicam alguma forma de legitimar seu poder político de forma a manter domínio sobre os indivíduos.
  • Direito Divino;
  • Estado Natural;
  • Contrato Social.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Modernidade - Sociedade - Exploração - Alienação


FICHA TÉCNICA:
Direção: Jean-François Brient e VictorLeón Fuent
Lançamento:2009
Duração:52 min
Formato: Avi
Tamanho: 695 MB
Legenda: PT-BR

SINOPSE (extraída do site oficial):

A servidão moderna é um livro e um documentário de 52 minutos produzidos de maneira completamente independente; o livro (e o DVD contido) é distribuído gratuitamente em certos lugares alternativos na França e na América latina. O texto foi escrito na Jamaica em outubrode 2007 e o documentário foi finalizado na Colômbia em maio de 2009. Ele existe nas versões francesa, inglesa e espanhola. O filme foi elaborado a partir de imagens desviadas, essencialmente oriundas de filmes de ficção e de documentários.

O objetivo principal deste filme é depor em dia a condição do escravo moderno dentro do sistema totalitáriomercante e de evidenciar as formas de mistificação que ocultam estacondição subserviente. Ele foi feito com o único objetivo de atacar defrente a organização dominante do mundo.

No imenso campo de batalha da guerra civil mundial,a linguagem constitui uma de nossas armas. Trata-se de chamar as coisas por seus nomes e revelar a essência escondida destas realidades por meio da maneira como são chamadas.  A democracia liberal, porexemplo, é um mito já que a organização dominante do mundo não tem nadade democrático nem de liberal. Então, é urgente substituir o mito dedemocracia liberal por sua realidade concreta de sistema totalitáriomercante e de expandir esta nova expressão como uma linha de pólvora pronta para incendiar as mentes revelando a natureza profunda dadominação presente.

Alguns esperarão encontrar aqui soluções ou respostas feitas, tipo um pequeno manual de “como fazer uma revolução?” Esse não é o propósito deste filme. Melhor dizendo, trata-se mais exatamente de uma crítica da sociedade que devemos combater. Este filme é antes de tudo um instrumento militante cujo objetivo é fazer com que um número grande de pessoas se questionem e difundam a crítica por todos os lados e sobretudo onde ela não tem acesso. Devemos construir juntos e por em prática as soluções e os elementos do programa. Não precisamos de um guru que venha explicar à nós como devemos agir: a liberdade de ação deve ser nossa característica principal. Aqueles que desejam permanecer escravos estão esperando o messias ou a obra que bastando seguir-la  ao pé daletra, libertam-se. Já vimos muitas destas obras ou destes homens em toda a história do século XX que se propuseram constituir a vanguarda revolucionária e conduzir o proletariado rumo a liberação de sua condição. Os resultados deste pesadelo falam por si mesmos.

Por outro lado, condenamos toda espéciede religião já que as mesmas são geradoras de ilusões e nos permite aceitar nossa sórdida condição de dominados e porque mentem ou perdem a razão sobre muitas coisas. Todavia, também condenamos todo astigmatismo de qualquer religião em particular. Os adeptos do complot sionista ou do perigo islamita são pobres mentes mistificadas que confundem acrítica radical com a raiva e o desdém. Apenas são capazes de produzir lama. Se alguns dentre eles se dizem revolucionários é mais com referência às “revoluções nacionais” dos anos 1930-1940  que à verdadeira revolução libertadora a qual aspiramos. A busca de um bode expiatório em função de sua pertencia religiosa ou étnica é tão antiga quanto a civilização e não é mais que o produto das frustrações daqueles que procuram respostas rápidas e simples frente ao mal que nos esmaga. Não deve haver ambigüidade com respeito a natureza de nossa luta. Estamos de acordo com a emancipação da humanidade inteira, fora de toda discriminação. Todos por todos é a essência do programa revolucionário ao qual aderimos.

As referências que inspiraram esta obra e mais propriamente dita, minha vida, estão explicitas neste filme: Diógenes de Sinope, Etienne de La Boétie, Karl Marx e Guy Debord. Não as escondo e nem pretendo haver descoberto a pólvora. A mim, reconhecerão apenas o mérito de haver sabido utilizar estas referências para meu próprio  esclarecimento. Quanto àqueles que dirão que esta obra não é suficientemente revolucionária, mas bastante radical ou melhor pessimista, lhes convido a propor sua própria visão do mundo no qual vivemos. Quanto mais numerosos em  divulgar estas idéias, mais rapidamente surgirá a possibilidade de uma mudança radical.

A crise econômica, social e política revelou o fracasso patente do sistema totalitário mercante. Uma brechasurgiu. Trata-se agora de penetrar mas de maneira estratégica. Porém,temos que agir rápido pois o poder, perfeitamente informado sobre o estado de radicalização das contestações, prepara um ataque preventivosem precedentes. A urgência dos tempos nos impõe a unidade em vez dadivisão pois o quê nos une é mais profundo do quê o que nos separa. Émuito fácil criticar o quê fazem as organizações, as pessoas ou osdiferentes grupos, todos nós reclamamos uma revolução social. Mas na realidade, estas críticas são provenientes do imobilismo que tenta convencer-nos de que nada é possível.

Não devemos deixar que o inimigo nos vença, as antigas discussões de capela no campo revolucionário devem,com toda nossa ajuda, deixar lugar à unidade de ação. Deve-se duvidarde tudo, até mesmo da dúvida.

O texto e o filme são isentos de direitos autorais, podem ser recuperados, divulgados, e projetados sem nenhuma restrição. Inclusive são totalmente gratuitos, ou seja, não devem de nenhuma maneira ser comercializados. Pois seria incoerente propor uma crítica sobre a onipresença das mercadorias com outra mercadoria. A luta contra a propriedade privada, intelectual ou outra,é nosso golpe fatal contra a dominação presente.

Este filme é difundido fora de todo circuito legal ou comercial, ele depende da boa vontade daqueles que asseguram sua difusão da maneira mais ampla possível. Ele não é nossa propriedade, ele pertence àqueles que queiram apropriar-se para que seja jogado na fogueira de nossa luta.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Política

01. Definindo..

  • Política deriva do grego politikós, adjetivo que significa tudo o que se refere à cidade (em grego, pólis);
  • Originalmente, seria a arte de governar, de gerir uma cidade (no caso da Grécia Antiga, a cidade-Estado);
  • No sentido comum, política, é guiar ou influenciar pela organização de um partido político, pela influência da opinião pública, pela aliciação de eleitores. Fala-se de "ser mais político" na maneira de agir, ou até mesmo da política de instituições diversas como escolas, empresas, etc;
  • Atualmente, considera-se a organização, direção e administração de nações ou Estados.

02. Poder:
Discutir política é referir-se ao poder.
  • É possível entender a política como a luta pelo poder, sua conquista, manutenção. O poder político é o poder do homem sobre outro homem (ou sobre uma sociedade). Mas poder também pode ser considerado a capacidade/ possibilidade de agir, de produzir algum efeito;
  • O poder é uma relação, há quem exerce o poder e quem tem o poder exercido sobre si. É a interferência de indivíduos ou grupos nas relações de outros indivíduos ou grupos;
  • O filósofo britânico Bertrand Russell (1872-1970) define o poder como "o conjunto dos meios que permitem alcançar os efeitos desejados".

03. Estado:


  • O termo Estado designa "conjunto das instituições (governo, forças armadas, funcionalismo público etc.) que controlam e administram uma nação". Nos tempos modernos, o poder do Estado é a instância por excelência do exercício de poder político;
  • Segundo Max Weber (1864-1920), o Estado (moderno) é reconhecido por possuir dois elementos que o constituem: a prestação de serviços públicos (aparato administrativo) e o controle único (monopólio) do uso legítimo da força;
  • Nos Estados teocráticos, por exemplo, o poder legítimo vem da vontade de Deus (do grego Teo: Deus + kratos: governo), ou simplesmente da força da tradição, quando o poder é passado de geração em geração, através das monarquias hereditárias;
  • Ainda é possível encontrar essa legitimação nos governos aristocráticos, onde o poder é representado por uma elite, cuja definição varia (desde o mais rico, o mais forte, ou até mesmo o de linhagem mais nobre);
  • E, por fim (?), no modelo democrático, onde a legitimidade do poder vem da vontade do povo, do consenso.

04. Democracia:


  • Demos (povo) + kratia, de kratos (governo);
  • Democracia é um regime de governo em que o poder de tomar importantes decisões políticas está com os cidadãos (povo), direta ou indiretamente, por meio de representantes eleitos - forma esta a mais usual;
  • A Democracia pode ser considerada de duas formas básicas: Democracia Direta (também chamada de "democracia pura"), por voto direto (do povo) em cada assunto particular; e a Democracia Representativa (também chamada de "democracia indireta"), eleição de representantes que tomam decisões em nome daqueles que os elegeram, ou seja, em nome do povo.


O EXERCÍCIO DEMOCRÁTICO ¹

Segundo Marilena Chaui², as determinações constitutivas do conceito de democracia são as idéias de conflito, abertura e rotatividade.
  • Conflito - se a democracia supõe o pensamento divergente, isto é, os múltiplos discursos, ela tem de admitir uma heterogeneidade essencial. Então, o conflito é inevitável. A palavra conflito sempre teve sentido pejorativo, como algo que devesse ser evitado a qualquer custo. Ao contrário, divergir é inerente a uma sociedade pluralista. Se os conflitos existem, evitá -los é permitir que persistam, degenerem em mera oposição ou sejam camuflados. O que a sociedade democrática deve fazer com o conflito é trabalhá -lo, de modo que, a partir da discussão, do confronto, seja encontrada a possibilidade de superá-lo. É assim que a verdadeira história se faz, nessa aventura em que o homem se lança em busca do possível, a partir dos imprevistos.
  • Abertura - significa que na democracia a informação deve circular livremente e a cultura não é privilégio de poucos. A circulação não se reduz ao mero consumo de informação e cultura, mas significa produção de cultura, que se enriquece nesse processo.
  • Rotatividade - significa tomar o poder na democracia realmente o lugar vazio por excelência, sem privilégio de um grupo ou classe. É permitir que todos os setores da sociedade possam ser legitimamente representados.
Por isso é importante que na sociedade haja mecanismos que permitam a ampla extensão da educação, ainda restrita a setores privilegiados. Que se ampliem os espaços públicos de consumo e produção de cultura. Que o pluralismo dos partidos e sua eficácia independam do poder econômico e que os adversários políticos não sejam considerados "inimigos", mas opositores.

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¹ ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 2. ed. São Paulo: Moderna, 1993.
² CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia; o discurso competente e outras falas. São Paulo: Moderna, 1980.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

O que é (pra que serve) a Filosofia?

01. Definindo:



  • Filosofia = Amizade ao saber, à sabedoria.
  • Filósofo = Amigo do saber, da sabedoria.

Primeiramente, devido à longa tradição que possui o saber filosófico é difícil estabelecer uma única definição de filosofia. Apresentemos como ponto de partida a etimologia da palavra Filosofia. Em grego, Φιλοσοφία significa “amizade ao saber”.

Filosofia é a investigação crítica e racional dos princípios fundamentais relacionados ao mundo, ao homem e a sua ação e seus valores.

Filosofia é:
  • ir além do óbvio;
  • se debruçar sobre aquilo que não é imediatamente dado, buscando as suas raízes;
  • desbanalizar o banal.

02. Atividade Humana x Atividade Animal:

03. Senso Crítico e Senso Comum:

Aspectos comuns:
  • O senso comum fornece determinadas soluções que se revelam satisfatórias e que incentivam a investigação científica;
  • Algumas vezes o senso comum vem a ser considerado um saber intuitivo;
  • Outras vezes a investigação científica refuta as crenças do senso comum;
  • O senso comum pode ser também um obstáculo ao conhecimento científico, porque cria expectativas que podem manipular a investigação e a neutralidade da observação científica;
  • Ambos os conhecimentos surgem para resolver necessidades práticas, embora o conhecimento científico não se desenvolva apenas com esse objectivo;


04. Desafios da Filosofia:
.. para despertar o pensamento crítico meu/ minha jovem!!!

Cultura da Imbecilidade:
  • Significa acreditar que tudo na realidade é natural;
  • A filosofia é a desbanalização do banal;
  • Procurar ir além do óbvio.  
Cultura da Intolerância:
  • Significa o não reconhecimento do diferente;
  • A filosofia questiona qualquer espécie de dogmatismo;
  • Busca incessante do diálogo.
Cultura da Alienação:
  • Significa aderir à chamada inteligência de rebanho;
  • A filosofia é a superação do senso comum;
  • Procurar a autonomia do pensar.


quarta-feira, 20 de junho de 2012

Globalização


SINOPSE:

O documentário discute os problemas da globalização sob a perspectiva das periferias (seja o terceiro mundo, seja comunidades carentes). O filme é conduzido por uma entrevista com o geógrafo e intelectual baiano Milton Santos (1926–2001), gravada quatro meses antes de sua morte. Considerado um dos maiores pensadores brasileiros do século XX, Milton Santos não era contra a globalização e sim contra o modelo de globalização perversa vigente no mundo, que ele chamava de globalitarismo. Analisando as contradições e os paradoxos deste modelo econômico e cultural, Milton enxergou a possibilidade de construção de uma outra realidade, mais justa e mais humana.

FICHA TÉCNICA:

Título: Encontro com Milton Santos ou O Mundo Global Visto do Lado de Cá
Lançamento: 2007 (Brasil)
Direção: Sílvio Tendler
Duração: 89 min
Gênero: Documentário

segunda-feira, 4 de junho de 2012

O que é cultura?

01. Como definir a cultura?

"A cultura é aquilo que permanece no homem quando ele já esqueceu todo o resto." (Émile Henriot)

O conceito de cultura abarca praticamente todos os tipos de comportamento e produtos relacionados com que os homens, como membros da sociedade humana, adquirem por meio da representação simbólica.

02. Educar para a Cultura

A educação, é um processo observado em qualquer sociedade e nos grupos constitutivos destas, sendo um elemento responsável pela sua manutenção e perpetuação a partir da transposição, às gerações que se seguem, dos modos culturais de ser, estar e agir necessários à convivência e ao ajustamento de um membro no seu grupo ou sociedade. Enquanto processo de sociabilização, a educação é exercida nos diversos espaços de convívio social, seja para a adequação do indivíduo à sociedade, do indivíduo ao grupo ou dos grupos à sociedade.

03. Identidade Cultural

Cultura é uma maneira de perceber, pensar, avaliar e agir. Ela é compartilhada, e de adaptação, e em constante mutação. A identidade cultural de uma pessoa é baseada em traços e valores que são aprendidos como parte da nossa origem étnica, religião, sexo, idade, nível socioeconômico, idioma principal, região geográfica, local de residência, e deficiências. - (Gollnick e Chinn, 1994)

04. Existe uma cultura superior?
  • Etnocentrismo: a visão ou avaliação que um indivíduo ou grupo de pessoas faz de um grupo social diferente do seu é apenas baseada nos valores, referências e padrões adotados pelo grupo social ao qual o próprio indivíduo ou grupo fazem parte. Levada a circunstâncias extremadas, essa visão absoluta pode desembocar numa xenofobia (ξένος [xenos] = estrangeiro e φόβος [phobos], medo).
  • O racismo é um pensamento que acredita existir raças humanas distintas e superiores umas às outras. Para essa avaliação preconceituosa são levadas em conta características físicas hereditárias, e determinados traços de caráter e inteligência ou manifestações culturais. O racismo não é uma teoria científica, mas um conjunto de opiniões pré concebidas onde a principal função é menosprezar outros grupos se valendo de critérios supostamente científicos, como a diferença na tonalidade de pele, na cor dos olhos, cabelo e traços faciais.
 05. Cultura popular e cultura erudita
  • Cultura Popular: Trata-se de um saber não institucionalizado, isto é, que não se aprende em colégios ou academias; exemplo disso é o crochê, ou a culinária tradicional, ou ainda a literatura de cordel.
  • Cultura Erudita: Em contraposição ao saber popular (folklore), trata-se de um saber de caráter mais formal e institucionalizado do saber. Isto é: o domínio da cultura erudita passa não pela tradição familiar, mas por academias, bibliotecas, conservatórios musicais, etc, que selecionam o material e impõem regras rígidas e complexas elaborações para aceitação deste saber em seu seio.
06. A cultura muda?
  • Sendo a representação de um grupo em uma determinada época, podemos dizer que a cultura é histórica.
  • Como mecanismo adaptativo e cumulativo, a cultura sofre mudanças dentro de um continuum histórico. Traços se perdem, outros se adicionam, em velocidades distintas nas diferentes sociedades.
07. Uma aldeia global
  • Criado pelo sociólogo canadense Marshall McLuhan, esse conceito quer dizer que o progresso tecnológico estaria reduzindo todo o planeta à mesma situação que ocorre em uma aldeia. Como paradigma representacional da aldeia global, ele elegeu a televisão, um meio de comunicação de massa em nível internacional. Mas antes disso, o rádio já construia pontes entre países e continentes. Depois do boom da televisão e depois do celular e da internet, é que podemos de fato perceber esse conceito não mais como uma possibilidade teórica, mas como realidade factual.
08. Cultura de massa
  • Trata-se de uma novidade surgida em meio ao desenvolvimento dos meios de comunicação. O alcance e a velocidade das informações abriu espaço para a produção de um tipo de cultura voltada para o grande público - a despeito de heterogeneidades sociais, étnicas, etárias, sexuais ou psicológicas - onde a função é sobretudo, o entretenimento. Os produtos da chamada indústria cultural se caracterizam sobretudo pela plasticização e a efemeridade e descartabilidade.
09. A contracultura

O termo contracultura pode se referir ao conjunto de movimentos de rebelião da juventude [...] que marcaram os anos 60: o movimento hippie, os beatnicks, a música rock, uma certa movimentação nas
universidades, viagens de mochila, drogas e assim por diante. [...] Trata-se, então, de um fenômeno datado e situado historicamente e que, embora muito próximo de nós, já faz parte do passado”. [...] “De outro lado, o mesmo termo pode também se referir a alguma coisa mais geral, mais abstrata, um certo espírito, um certo modo de contestação, de enfrentamento diante da ordem vigente, de caráter profundamente radical e bastante estranho às forças mais tradicionais de oposição a esta mesma ordem dominante. Um tipo de crítica anárquica – esta parece ser a palavrachave - que, de certa maneira, ‘rompe com as regras do jogo’ em termos de modo de se fazer oposição a uma determinada situação. [...] Uma contracultura, entendida assim, reaparece de tempos em tempos, em diferentes épocas e situações, e costuma ter um papel fortemente revigorador da crítica social."

10. ...

E se todos os outros aceitassem a mentira imposta pelo Partido - se todos os anais dissessem a mesma coisa - então a mentira se transformava em história, em verdade. "Quem controla o passado," dizia o lema do Partido, "controla o futuro; quem controla o presente controla o passado." E no entanto o passado, conquanto de natureza alterável, nunca fora alterado. O que agora era verdade era verdade do sempre ao sempre. Era bem simples. Bastava apenas uma série infinda de vitórias sobre a memória. "Controle da realidade," chamava-se. (George Orwell, 1984)

”Quem quer que controle a mídia, as imagens, controla a cultura.” (Allan Ginsberg)

Fontes
  • http://www.banksy.co.uk/index.html
  • http://www.arnaldoantunes.com.br/sec_discografia_view.php?id=1&type=1
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Cultura
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Educa%C3%A7%C3%A3o
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Racismo
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Aldeia_global
  • http://pt.wikipedia.org/wiki/Contracultura
  • http://www.scribd.com/doc/6922241/1984GeorgeOrwell
  • http://www.scribd.com/doc/29057883/ColecaoPrimeirosPassosOQueeCulturaJoseLuizdosSantos

segunda-feira, 14 de maio de 2012

DEMOCRACIA E CIDADANIA

1. Apresentação do tema

Quando, em 4 de julho de 1776, foi promulgada a Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, a nova nação que surgia pretendia romper com os símbolos e as práticas políticas do Velho Mundo, inaugurando uma nova e pluralista forma de praticar a política e de organizar a sociedade em torno do Estado Nacional. Nascia, então, o Estado democrático.
O primeiro intelectual a perceber e a escrever sobre tal fenômeno foi o francês Alexis de Tocqueville, o qual, em seu livro A democracia na América, procurou exaltar a nova forma de organização política nascida no Novo Mundo e que levava ao pé da letra os princípios iluministas propagados no continente europeu naquele período.
Ainda que os EUA inspirassem sua declaração de independência e sua nova nação nos princípios iluministas europeus combinando formas democráticas participativas com representativas, as demais nações europeias que participavam do processo de revoluções burguesas não estavam dispostas a permitir uma participação tão ampla da população nos rumos que seus Estados Nacionais estavam por tomar, optando por modelos mais conservadores e restritivos, adotando o voto de caráter censitário como forma de impedir tal participação.
Como aponta o historiador Eric Hobsbawn, ao comentar a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão aprovada no processo revolucionário francês, em seu livro A era das revoluções: “Este documento é um manifesto contra a sociedade hierárquica de privilégios nobres, mas não um manifesto a favor de uma sociedade democrática e igualitária.”
A democracia moderna, portanto, não surge com o Estado liberal, ainda que os dois não sejam incompatíveis. Sua origem é resultado das contradições que vão surgindo no Estado liberal e das lutas promovidas inicialmente pelo movimento operário em prol de uma maior participação política, a saber, de maior democratização.
Mas o processo democrático não se encerra com o movimento operário no século XIX. As conquistas e a maior democratização da sociedade vão levar ao surgimento de novos movimentos sociais, cujas lutas e mobilização vão marcar todo o século XX em direção a uma sociedade mais aberta, tolerante, pluralista e democrática.
Com o surgimento desses movimentos sociais, a própria democracia vai encontrar novas formas e desafios para se aperfeiçoar, afirmando a cidadania, elemento central de nossa discussão neste módulo.

2. A luta pela democratização: o movimento operário

O movimento operário nasce na Europa a reboque das revoluções industriais das nações europeias ao longo dos séculos XVIII e XIX. Em um primeiro momento, a classe operária é plenamente envolvida pela dinâmica capitalista, tornando-se refém das situações de desequilíbrio econômico que produziram transformações sociais, ampliando a pauperização de populações urbanas.
A entrada de camponeses nos centros urbanos gerou um gigantesco exército industrial de reserva e dificultou, a princípio, qualquer forma de organização coletiva diante da existência de poucas vagas nas fábricas existentes. Assim, o êxodo rural e o processo de urbanização estavam intimamente vinculados à industrialização que se afirmava.
Apenas com a maior dinamização da economia capitalista no século XIX, que viera acompanhada pela maior organização coletiva do operariado, houve avanços no âmbito dos movimentos sociais, permitindo aos operários estruturarem-se coletivamente para, diante da classe patronal, conseguir direitos trabalhistas. Para tanto, os trabalhadores utilizaram-se de instrumentos como a greve (e sua variação, a greve branca, quando os operários comparecem ao trabalho na fábrica, mas mantêm um ritmo lento de produção), as passeatas, os piquetes e a publicação de panfletos e jornais.
As conquistas na esfera do trabalho tornaram-se realidade quando o operariado passou a se organizar coletivamente para enfrentar o patronato, o que ocorreu com o surgimento dos sindicatos, formas coletivas que derivavam das trade unions, primeiras associações de trabalhadores criadas na Inglaterra.
Os sindicatos foram mais combativos e diretamente ligados às necessidades do operariado na Europa, ao contrário do que viria a acontecer no Brasil, por exemplo, onde a história do movimento operário transcorreu de forma diversa, sem a autonomia e o confronto comuns ao caso europeu.
Porém, a capacidade reivindicatória dos sindicatos restringia-se ao mundo da fábrica, situação que se alteraria com a nova mudança da organização operária ocorrida ainda no século XIX, qual seja, a formação de partidos políticos operários.
O surgimento de partidos de base operária ampliou a luta por maior democratização. Os partidos políticos existem desde os primórdios da Antiguidade Clássica e sua organização conta com uma estrutura que deve servir como ponte de comunicação entre a sociedade e o Estado.
Portanto, os partidos nascem com o intuito de atender às reivindicações de uma sociedade complexa que se utiliza do expediente eleitoral para disputar o controle do Estado e de cargos dentro dele. O surgimento dos partidos operários apenas tornou as disputas políticas mais intensas, associando cada um dos partidos existentes a uma posição ideológica.
Por outro lado, esses partidos têm que se adaptar às regras do jogo democrático para conquistar o eleitor e, assim, obter os ganhos políticos concernantes ao controle do Estado Nacional e dos cargos políticos e administrativos.
Tais disputas guardam perigos ao modelo democrático, já que, com o crescimento e a diversificação da sociedade, os partidos tendem a se afastar de suas respectivas bases, produzindo discursos que se adaptam à maioria dos eleitores, sem representá-los de fato, além de sua estrutura partidária gerar elites que controlam uma sigla partidária buscando exercer o poder para atendimento de demandas privadas. Nesse momento, há risco totalitário ou autoritário, pois há impedimento da formação de novos líderes e do rodízio democrático, necessário para a consolidação de uma sociedade mais plural e democrática.

3. Os novos movimentos sociais

As limitações presentes nos movimentos sindicais e nos partidos políticos, que se institucionalizam e se burocratizam, são o estopim para o surgimento de novas demandas políticas não atendidas por esses meios convencionais, daí o surgimento dos novos movimentos sociais.
Estes, por sua vez, não são fruto exclusivo das limitações dos movimentos anteriormente citados, mas também da própria diversificação existente na sociedade, resultado da expansão capitalista e da maior distribuição da riqueza ao longo do século XIX e começo do século XX.  Com essa diversificação, observa-se a emancipação de grupos até então subordinados a uma ordem social ainda patriarcal e conservadora.
Dentro desse cenário, os novos movimentos sociais identificam- se com causas específicas, tais como a afirmação do negro e da mulher como membros e cidadãos efetivos da sociedade ou como o movimento hippie, que contestou os valores familiares e sociais em voga nos anos 1960 em países avançados e que abriu espaço para outras causas de gênero, como o movimento gay e o movimento ecológico.
Em um primeiro momento, esses movimentos eclodem em nações marcadas por maior organização política e social, onde a democracia se instalava de forma decisiva como resultado das pressões sociais até então promovidas pelo operariado.
Nesse contexto, destaca-se o fortalecimento do movimento negro e do movimento feminista nos EUA, um dos principais palcos pela luta por direitos civis entre a primeira e a segunda metade do século XX. No caso em particular do movimento negro, é preciso lembrar que os negros eram considerados cidadãos de segunda categoria, sendo segregados política e socialmente em muitos estados norte-americanos.
A segregação foi combatida de formas distintas, tanto pela atuação de Martin Luther King, que procurou uma abordagem pacífica, quanto de Malcom X, que procurou meios de combate mais incisivos e conflitantes com a criação dos Panteras Negras, grupo que se utilizava da violência para reivindicar e, ao mesmo tempo, defender-se das agressões e restrições impostas pela elite branca.
No caso do feminismo, as reivindicações vêm desde o século XIX, mas o avanço do movimento apenas se faz presente quando as mulheres começam a abandonar seus lares para participar mais incisivamente do mundo do trabalho durante a Primeira e a Segunda Guerras Mundiais.
Ainda assim, o direito ao voto seria uma conquista tardia, quando levamos em consideração a história de conquistas democráticas das nações avançadas, apontando para certo traço patriarcal presente nelas.
Nos anos 1960, o movimento estudantil e o movimento hippie acabaram por levantar bandeiras que também seriam incorporadas pelo movimento feminista. O avanço nas pesquisas biológicas permitiu o surgimento de métodos contraceptivos eficientes, liberando a mulher da obrigatoriedade de se tornar mãe e levando a juventude a romper com os padrões de comportamento que caracterizavam a sociedade até então.
A crítica ao conservadorismo e aos valores instituídos, assim como a expansão da renda para outros setores e segmentos da sociedade, são fatores que vão incentivar o surgimento do movimento gay, posteriormente incorporando outras opções sexuais até chegar à sua atual forma, o movimento LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e travestis).
Este, a despeito de suas conquistas, continua a sofrer com o preconceito social, ainda que tenha se tornado um importante nicho de consumo para o mercado.
Por fim, vale uma última ressalva para destacar a preocupação ecológica com o desenvolvimento sustentável, prática recente que se associa com as alterações climáticas decorrentes do acelerado e desenfreado crescimento industrial, que ameaça o ecossitema do qual a humanidade faz parte.
A despeito das conquistas obtidas pelos novos movimentos sociais, devemos salientar que as estruturas sociais não foram modificadas, mas esses movimentos contribuíram para a ampliação da esfera democrática.

4. A democracia moderna — Cidadania e participação política

O avanço dos movimentos sociais contribuiu para uma maior democratização das sociedades ocidentais principalmente. No entanto, é preciso entender que a democracia que nasce neste período distancia-se teoricamente do modelo democrático original, surgido na Grécia Antiga, vindo mesmo a ser contestada por muitos pensadores contemporâneos, que não a classificam como democracia, mas como outro tipo de governo, a poliarquia.
Tradicionalmente, os cientistas políticos tendem a caracterizar de forma distinta esses dois modelos: a democracia dos antigos (referência ao modelo grego da Antiguidade) e a democracia dos modernos (inaugurada na prática com a formação da nação norte-americana ao final do século XVIII). Apesar de esses dois modelos pregarem a participação política dos cidadãos na tomada de decisões do Estado, guardam diferenças entre si.
A democracia dos antigos caracteriza-se pela atuação direta dos cidadãos nas decisões que envolvem o espaço público. Como todos buscam o bem comum, há, entre os cidadãos, um princípio de igualdade que se manifesta na aplicação das decisões coletivas, sempre decidida através de um sorteio entre os cidadãos para preservar a igualdade entre eles. Mas, para que essa realidade possa transcorrer, é preciso restringir o número de cidadãos, o que a torna uma democracia excludente.
Por sua vez, a democracia dos modernos subsiste em uma sociedade de massas, cujo número de cidadãos inviabiliza a participação direta e exige meios indiretos para tanto; a principal forma é a representação, em que escolhemos aqueles que vão defender os valores e reivindicações nos quais acreditamos. Aqui, com clara influência dos ideais iluministas, defende-se a liberdade como valor essencial, e não a igualdade entre os cidadãos.
A representação política não exclui a participação política direta. Inúmeras democracias modernas adotam um modelo misto em que procuram combinar os meios tradicionais de representação com a adoção de meios participativos, sendo o plebiscito o mais conhecido deles. Ainda assim, a plena participação de todos os cidadãos não é uma realidade dentro deste modelo.

5. Democracias maduras e recentes

Outro aspecto importante a ser assinalado é o fato de que os modelos democráticos são distintos quanto à sua eficiência. Nota-se uma clara distinção entre as primeiras democracias modernas e as mais recentes, com as primeiras sendo chamadas de democracias maduras.
Neste último caso, observamos a existência de um regime estruturado que cria meios de comunicação entre o Estado e a sociedade civil, permitindo a esta participar ativamente das decisões do primeiro. Essa realidade, alicerçada em uma sociedade de princípios liberais, gera uma contradição política conhecida por apatia política, em que os cidadãos deixam de participar das decisões políticas para se dedicar a suas vidas pessoais.
Esse fato abre espaço para que grupos políticos organizados venham a tomar o controle do Estado, podendo alterar as regras democráticas ou, sem a devida fiscalização e o acompanhamento da sociedade civil, utilizar-se dos recursos públicos para satisfazer seus interesses particulares, o que fere os princípios democráticos na mesma proporção.
A apatia política também pode ser gerada quando o cidadão se depara com temas de difícil compreensão técnica, resultantes da complexidade da organização do Estado e da solução dos problemas sociais advindos dele.
Assim, discussões quanto à Selic (taxa de juros), a práticas protecionistas, à política industrial ou à prevenção à violência urbana exigem a presença de especialistas que tornam a opinião do cidadão comum pouco significativa, levando este a abandonar os debates sobre tais temas, que passam a ser decididos pelos especialistas, o que gera perigo para a normalidade democrática.
Um último elemento que ameaça as democracias maduras é a lentidão do processo democrático, que exige discussões e deliberações dos projetos em pauta para, apenas depois de esgotados todos os ângulos, implantá-los, o que, pela demora, pode gerar atrasos e problemas.
Por sua vez, as democracias recentes são marcadas pela inexistência (ou precariedade) de meios de comunicação entre o Estado e a sociedade civil e pela incapacidade do primeiro em manter o modelo democrático por um longo período, sendo sempre interrompido por golpes e implantação de regimes autoritários. A descontinuidade democrática dificulta, por sua vez, a implantação e a consolidação dos valores democráticos, necessários à conscientização e participação popular.
A existência de mecanismos democráticos débeis nesses regimes gera também a apatia política, mas com elevado grau de cidadãos passivos. Mesmo que – como é o caso do Brasil – se tenha a obrigatoriedade da votação, devemos nos lembrar de que esta é apenas parte do processo democrático. A impossibilidade de o modelo democrático se perpetuar por mais tempo impede que seus cidadãos possam se educar na democracia, gerando, no médio prazo, o risco de retorno à realidade autoritária.

6. Cidadania no Brasil recente: restrições

A redemocratização dos anos 1980 introduziu uma nova realidade na sociedade brasileira, que se deparou com um desafio: a participação política. Os avanços propostos pela Constituição de 1988 são promissores neste caso, mas é preciso tomar cuidado com suas pretensões. Passados mais de vinte anos de sua implantação, o cenário de luta pela democratização ainda se encontra distante do razoável.
Os estudiosos identificam a enorme concentração de renda existente no Brasil como um dos fatores responsáveis pela lentidão no exercício da cidadania. A diferença entre ricos e pobres é brutal, levando a percepções distintas do significado da cidadania.
A tentativa de superação dessa situação política desconfortável é clara. O Estado necessita introduzir mecanismos econômicos e sociais que efetivamente promovam uma redistribuição de renda, reduzindo as desigualdades e garantindo condições adequadas de sobrevivência. Apenas a partir da realização econômica é que o cidadão pode se dedicar a aprofundar sua participação na sociedade.
É possível alcançar esses dois fins através do incentivo à educação e do fortalecimento da sociedade civil, através de seus próprios representantes e também do Estado democrático, que deve incentivar maior independência e autonomia de grupos e entidades civis, além de fortalecer a aplicar corretamente as regras jurídicas.
Dentro da realidade política brasileira, o distanciamento entre a classe política e os interesses do eleitorado, a permanência de práticas políticas oligárquicas com a transformação de interesses privados em interesses públicos e a incapacidade do cidadão em se reconhecer como parte do Estado e da sociedade, dada a ineficiência dos mecanismos de representação, são os principais desafios a serem superados para a efetiva implantação da cidadania.

terça-feira, 20 de março de 2012

Trabalho

01. O Pensamento Positivista

O Positivismo nasce de pensadores como Saint-Simon, August Comte e Émile Durkeim. Para os positivistas a sociedade, tal qual o mundo natural, seria regida por leis naturais, invariáveis, independentes da ação e da vontade dos indivíduos. O papel da ciência positiva seria observar e descrever, sob neutralidade e objetividade científica, estas leis de forma que os homens pudessem agir de acordo com elas.

A concepção positivista concebe a sociedade como um organismo composto por partes diferentes e interdependentes. A existência saudável desta sociedade depende da integração entre as partes e do desempenho da função específica de cada uma das mesmas. Assegurar integração e desempenho de função proporcionaria um padrão de saúde social cuja expressão seria o consenso, a conciliação e a coesão social.

Assegurar a harmonia entre as partes, dentro da ordem natural do mundo social, tornaria possível a sociedade evoluir crescentemente, isto é, atingir o progresso. Contudo, em uma sociedade em que cada indivíduo ou grupo – a parte – contestasse o seu lugar natural no interior da sociedade, desconhecendo o seu papel e função específica, teria início a desintegração e a crise de desempenho de função. Estabeleceria um estado de “patologia social”, cuja evidência seria o conflito. Neste contexto, o progresso técnico, econômico, social, político, cultural, escolar etc, estaria comprometido.

Para os positivistas a própria dinâmica acelerada das sociedades industriais contemporâneas geraria um ambiente social permissivo a conflitos. A dinâmica acelerada de criação de novas relações sociais proporcionada pela sociedade industrial, por exemplo, não permitiria o tempo necessário para sedimentar usos e costumes que gerariam uma regulamentação legal adequada sobre os direitos e deveres das partes que compõem o todo social. Estabeleceria estados de anomia social, isto é, de ausência de leis claramente estabelecidas para dirigir a conduta dos indivíduos.

A perpetuação do estado de anomia geraria o caos e a desordem social de forma a colocar sob risco a sociedade e o progresso social. A investigação das relações entre capital e trabalho sob uma conjuntura de transformações capitalistas mergulhadas em estado de anomia social cumpriria, por exemplo, o papel de proporcionar ao poder público e empresários as condições para formular e estabelecer a legislação trabalhista adequada aos novos tempos. Como resultado ocorreria a superação do conflito entre capital e trabalho.

[BARBOSA, Walmir. Sociologia e Trabalho, uma leitura sociológica introdutória]

02. A Análise Marxista

O principal objeto de estudo de Marx era a sociedade capitalista europeia do século XIX. A partir de seus princípios teóricos, ele analisou alguns aspectos responsáveis pela subordinação do operário ao burguês, especialmente a divisão técnica do trabalho e a máquina. Para Marx, a especialização do trabalhador, embora aumentasse a produtividade e a qualidade do que era produzido, levava os trabalhadores a perder a noção de sua própria importância no processo total. Como cada pessoa passa a fazer uma pequena etapa do processo de produção, perde-se a noção do valor do trabalho.

O trabalho realizado pelo operário garante-lhe uma remuneração, o salário, que possibilita a satisfação de suas necessidades materiais por um certo período de tempo. Isso exige que ele continue a trabalhar para que possa permanecer existindo. Como o salário sustenta sua existência, o operário tem a impressão de que foi corretamente remunerado pelo burguês, mas isso, de acordo com Marx, é um equívoco.

A remuneração paga corresponderia apenas a uma pequena parte do valor do trabalho. A maior parte ficaria com o burguês. É a partir disso que o empresário extrairia seu lucro. Marx chamou isso de mais-valia: a diferença entre o valor pago ao proletário e o real valor do seu trabalho. Esse conceito é muito importante e ajuda a entender a acumulação de capital pelos donos dos meios de produção (burgueses). A base do sistema capitalista seria a extração da mais-valia da burguesia em relação aos trabalhadores.

Em parte, o operário e os demais trabalhadores existentes na sociedade não se apercebem da exploração por causa do predomínio da ideologia burguesa, liberal, que afirma que as diferenças entre os indivíduos são resultado da concorrência natural. Tal naturalização esconde a relação de subordinação de uma classe sobre a outra permitindo ao burguês manter o controle sobre a sociedade, ainda que de forma indireta, por meio do domínio sobre a esfera econômica.

Para Marx, a única forma de superar esta situação de desigualdade social seria a atuação revolucionária do proletariado, classe social que sofre diretamente a exploração burguesa por trabalhar dentro da fábrica. É esta situação que leva o proletariado a adquirir consciência de sua exploração e que possibilitaria sua união, na forma de sindicatos e partidos políticos que liderariam a classe trabalhadora numa revolução armada contra a burguesia, assumindo o controle do Estado e iniciando a transição em direção à superação da exploração e da desigualdade.

A teoria marxista, no entanto, possui limitações que acabam por esbarrar no componente histórico; sua previsão era de que a sociedade capitalista sofreria um contínuo processo de proletarização que, associado ao desenvolvimento tecnológico, gerariam as condições para a conscientização do proletariado e posterior revolução.

Essas previsões, porém, não se concretizaram. A atuação do movimento operário, a percepção burguesa de que o aumento de salários geraria demanda para seus produtos e a aceleração tecnológica levaram à diversificação da mão de obra e ao surgimento de novas carreiras e setores de empregabilidade. Ao longo do tempo, uma parte dos trabalhadores, principalmente nos países europeus, foi alçada às camadas médias, tendo possibilidades assim de consumir mercadorias e serviços. Gozando de parte dos benefícios do capitalismo, essa nova classe média perdeu muitos de seus anseios revolucionários. Integrada ao sistema capitalista, interessava-lhe menos questionar a mais-valia.

[Sociologia, Sistema COC (Ensino Médio)]

03. O Pensamento Weberiano

Em uma das suas obras mais importantes, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Weber coloca como uma de suas principais preocupações compreender quais foram as especificidades que levaram algumas sociedades ocidentais ao desenvolvimento do capitalismo. Para ele, o fator responsável pelo surgimento do capitalismo foi a razão humana ligada a certos valores calvinistas presentes na época. O protestantismo calvinista acreditava que por meio do trabalho o homem alcançaria Deus, e como o trabalho gerava lucros, a riqueza também era uma forma de alcançá-lo.

Para Weber o moderno sistema de produção, eminentemente racional e capitalista, não se origina do avanço das forças produtivas, nem das novas relações de produção como teria afirmado Marx. Origina-se de um novo conjunto de normas sociais e morais, às quais denomina ética protestante: o trabalho duro e árduo, a poupança e o ascetismo. Este conjunto de normas sociais e morais teria proporcionado a reaplicação das rendas excedentes, em vez de seu dispêndio e consumo em símbolos materiais e improdutivos de vaidade e prestígio, a exemplo do que ocorria na Idade Média.

Para Weber o capitalismo, a organização burocrática e a ciência moderna constituem três formas de racionalidade que surgiram a partir dessas mudanças religiosas ocorridas inicialmente em países protestantes, a exemplo da Inglaterra e da Holanda. Países católicos, sob um conjunto de normas sociais e morais impregnadas de aspectos cristãos - medievais, não teriam gerado esta racionalidade.


.. em relação a burocracia..


Para Weber a burocracia seria uma forma de organização humana que se basearia na racionalidade, isto é, na adequação dos meios aos objetivos (fins) pretendidos, a fim de garantir a máxima eficiência possível no alcance desses objetivos. Segundo ele, as origens da burocracia – como forma de organização humana – remontariam à época da Antiguidade, quando o ser humano elabora e registra seus primeiros códigos de normatização das relações entre o Estado e as pessoas e entre as pessoas. Contudo, a burocracia – tal como existe hoje - teve sua origem nas mudanças religiosas verificadas após o Renascimento.

Para Weber a burocracia não se limita à organização estatal. Weber nota a proliferação de organizações de grande porte no domínio religioso (a Igreja), no educacional (a universidade), no econômico (as grandes empresas), e assim por diante. Para tanto, teria concorrido o desenvolvimento de uma economia monetária, que facilita e racionaliza as transações econômicas; o crescimento quantitativo e qualitativo das tarefas administrativas do Estado Moderno, que reflete a enorme complexidade e dimensão das tarefas de organização da sociedade moderna; a superioridade técnica da administração burocrática, que permite uma força autônoma à própria burocracia; e o desenvolvimento tecnológico, que permite um progressivo aperfeiçoamento da administração burocrática Para Weber, a burocracia seria a organização eficiente por excelência. Ela perseguiria a racionalidade em relação ao alcance dos objetivos da organização; a precisão na definição dos cargos e na operação das tarefas; a rapidez nas decisões; a univocidade de interpretação garantida pela regulamentação específica e escrita; a uniformidade de rotinas e procedimentos; a continuidade da organização no contexto de renovação dos quadros; a redução do atrito entre as pessoas; a constância; a subordinação dos mais novos aos mais antigos; a confiabilidade; a existência de benefícios sob o prisma das pessoas na organização.

Nessas condições, o trabalho seria profissionalizado, o nepotismo evitado e as condições de trabalho favoreceriam a moralidade econômica e dificultariam a corrupção. A equidade das normas burocráticas teria a virtude de assegurar cooperação entre grande número de pessoas sem que essas pessoas se sentissem necessariamente cooperadoras.

O termo burocratização usado por Weber integraria, em alguma medida, com o conceito de racionalização. Assim, a racionalização, para Weber, tanto poderia referir-se aos meios racionais e sua adequação para se chegar a um fim, qualquer que fosse ele, como também poderia referir-se à visão racional do mundo por meio de conceitos cada vez mais precisos e abstratos, desenvolvidos inclusive pela ciência, de reforma a rejeitar toda religião e valores metafísicos ou tradicionais, desmistificando o próprio mundo.

Weber temia a burocracia. Embora considerasse a burocracia como a mais eficiente forma de organização criada, a concebia como uma enorme ameaça à liberdade individual e às instituições democráticas das sociedades ocidentais. O próprio Weber notou que a estrutura burocrática enfrentaria um dilema típico: de um lado, existiriam pressões constantes de forças exteriores para encorajar o burocrata a seguir normas diferentes àquelas da organização e, de outro lado, o compromisso dos subordinados com as regras burocráticas tenderia a se enfraquecer gradativamente.

Neste quadro poderia ocorrer disfunções da burocracia, isto é, anomalias e imperfeições no funcionamento da burocracia. Cada disfunção seria o resultado de algum desvio ou exagero em cada uma das características do modelo burocrático. As disfunções da burocracia seriam a internacionalização das normas; o excesso de formalismo e papelório; a resistência a mudanças; a despersonalização do relacionamento; a categorização do relacionamento; a super conformidade; a exibição de sinais de autoridade; a dificuldades com clientes e a imprevisibilidade do funcionamento.

[BARBOSA, Walmir. Sociologia e Trabalho, uma leitura sociológica introdutória]

04. EXTRAS

SOLIDARIEDADE MECÂNICA:
- Característica da fase primitiva da organização social que se origina das semelhanças psíquicas e sociais (e, até mesmo, físicas) entre os membros individuais. Para a manutenção dessa igualdade, necessária à sobrevivência do grupo, deve a coerção social, baseada na consciência coletiva, ser severa e repressiva. O progresso da divisão do trabalho faz com que a sociedade de solidariedade mecânica se transforme.

SOLIDARIEDADE ORGÂNICA:
A divisão do trabalho, característica das sociedades mais desenvolvidas, gera um novo tipo de solidariedade, não mais baseado na semelhança entre os componentes (solidariedade mecânica), mas na complementação de partes diversificadas. O encontro de interesses complementares cria um laço social novo, ou seja, um outro tipo de princípio de solidariedade, com moral própria, e que dá origem a uma nova organização social - solidariedade orgânica. Sendo seu fundamento a diversidade, a solidariedade orgânica implica uma maior autonomia, com uma consciência individual mais livre.

ALIENAÇÃO:
Processo que deriva de uma ligação essencial à ação, à sua consciência e à situação dos indivíduos, pelo qual se oculta ou se falsifica essa ligação de modo que o processo e os seus produtos apareçam como indiferentes, independentes ou superiores aos homens que são, na verdade, seus criadores. No momento em que a uma pessoa o mundo parece constituído de coisas – independentes umas das outras e não relacionadas – indiferentes à sua consciência, diz-se que esse indivíduo se encontra em estado de alienação. Condições de trabalho, em que as coisas produzidas são separadas do interesse e do alcance de quem as produziu, são consideradas alienantes. Em sentido amplo afirma-se que é alienado o indivíduo que não tem visão – política, econômica, social – da sociedade e do papel que nela desempenha.

LUTA DE CLASSES:
Esforço de uma classe para conseguir uma posição ou condição de maior bem-estar na comunidade, com respeito aos direitos, privilégios e oportunidades dos seus membros.

BUROCRACIA:
Organização com cargos hierarquizados, delimitados por normas, com área específica de competência e de autoridade, dotados tanto de poder de coerção quanto da limitação desta, onde a obediência é devida ao cargo e não à pessoa que o ocupa; as relações devem ser formais e impessoais, sem apropriação do cargo que, para ser preenchido, exige competência específica; todos os atos administrativos e decisões têm de ser formulados por escrito.

Sobre Fordismo e Toyotismo, um site com um resumo razoável sobre esses temas:
- Geomundo


Sobre a Divisão Social do Trabalho:
- eumed.net

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Contexto Histórico do surgimento da Sociologia


A REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E A NOVA ORDEM SOCIAL (1750-1850)

- Foi o marco de uma nova era na história da humanidade;

- Não representa apenas o crescimento da atividade fabril, constitui uma autêntica revolução social que se manifesta por transformações profundas da estrutura institucional, cultural, política e social;

- Reordenação da sociedade rural e consequente emigração da população rural para os centros urbanos (êxodo rural);

- Transmutação da atividade artesanal em manufatureira e por último em atividade fabril;

- Criação do proletariado urbano e do empresariado capitalista;

- Implicou o fortalecimento de uma nova classe social: a burguesia;

- Causou profundas mudanças na estrutura das relações sociais, no volume de produção e na extensão e variedade do comércio.

A TRILOGIA CLÁSSICA DA SOCIOLOGIA

- Émile Durkheim

Acreditava que os indivíduos são o produto de forças sociais complexas e não podem ser entendidos fora do contexto social em que vivem.

- Max Weber

Conhecido pelo seu estudo da burocratização da sociedade, que poderia resultar em uma "noite polar de frio glacial" de regras e controle social.

- Karl Marx

Teve participação como intelectual e como revolucionário no movimento operário, sendo que ambos (Marx e o movimento operário) influenciaram uns aos outros durante o período em que o autor viveu.
Alguns dos seus principais temas são: Modo de produção, mais-valia, acumulação primitiva e a luta de classes.

AFINAL, QUANDO SURGIU A SOCIOLOGIA?

- Teve seu momento histórico na primeira metade do século XIX, quando ocorreram profundas  transformações econômicas e sociais e o desenvolvimento do método científico em outros setores do conhecimento humano;

- Com a liquidação do Antigo Regime e consequente inauguração da Era Industrial;

- A desagregação da sociedade feudal, a evolução do sistema capitalista de produção, com sua economia de mercado e a correspondente expansão  das atividades urbanas trouxe como conseqüência o alargamento do âmbito da percepção social além dos limites do que era sancionado pela tradição, pela religião ou pela metafísica.

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Introdução à SOCIOLOGIA (2)

Alô meu povo!
Vai o vídeo que serviu (ou deveria ter servido) como foco inicial de reflexão em nossa aula introdutória..
.. apesar das discordâncias que surgiram em relação a alguns pontos (como religião, por exemplo), lembrem-se que foi a base para a explicação dos conceitos de Alienação e da "natureza" gregária do homem..

Abraços a todos e todas!


terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Introdução à SOCIOLOGIA

Bons dias, boas tardes e boas noites meu povo!
.. sem tempo (e jeito) para apresentações prolongadas, aí vai o resumo da aula dessa semana pra vocês se divertirem (¬¬) nos estudos..
Abraços a todos e todas!


1 - O Homem possui natureza gregária, isto é, um de seus instintos mais básicos é a necessidade da convivência social. Não existe a possibilidade de um indivíduo viver em isolamento total e absoluto. Já foi comprovado que pessoas privadas do convívio social em poucos meses podem sofrer danos mentais irreversíveis; não raro podem atingir estado de loucura total ou ainda perderem a vida através de auto-flagelamento - isso comprova que o nosso instinto gregário é tão forte quanto o instinto sexual ou o instinto de sobrevivência.

2 - A Sociologia existe justamente para estudar a nossa natureza gregária, e vai além: estuda também os processos nos quais a convivência social acontece.

3 - A Sociologia (ou as Ciências Sociais) subdivide-se em quatro áreas básicas:
- A Sociologia propriamente dita, que estuda os grupos sociais: sua formação, sua presença e ação dentro da sociedade etc.
- A Economia, que estuda as relações sociais de produção e consumo.
- A Antropologia, que estuda as múltiplas culturas criadas e desenvolvidas pelos mais variados grupos humanos.
- A Ciência Política, que estuda as relações de PODER dentro da sociedade.

4 - Desde a antiguidade sempre houveram estudiosos dedicados ao estudos dos processos sociais. Por exemplo, 300 anos antes de Cristo Platão escreveu "A República"; na Idade Média, Agostinho escreveu "A Cidade de Deus"; na idade moderna, ocorreu um verdadeiro boom de estudiosos da sociologia: Maquiavel, Thomas More, Thomas Hobbes, Francis Bacon, Erasmo de Roterdã entre outros, e finalmente na idade contemporânea tivemos a conceituação da Sociologia como ciência propriamente dita.

5 - Augusto Comte, francês do século XIX é considerado o Pai da Sociologia, mas foi outro francês, Émile Durkhein que formalizou o método sociológico, consagrando a Sociologia como ciência no sentido próprio da palavra. Outros sociólogos clássicos da contemporaneidade são Max Weber e Karl Marx.

6 - A Sociologia no Brasil tem diversos estudiosos de renome internacional, entre eles: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os ex-ministro Florestan Fernandes, o escritor Euclides da Cunha, Sérgio Buarque de Holanda (pai do cantor Chico Buarque), e o ex-deputado Darcy Ribeiro, entre outros.


créditos dos tópicos: kafenakoka (Prof. Douglas Gregorio)